O secretário itinerante do comité provincial do MPLA em Luanda, general Bento dos Santos Kangamba, considerou, em Luanda, que a revisão constitucional (que ele não sabe o que é) proposta pelo Presidente da República, João Lourenço, visa corresponder ao ritmo de desenvolvimento do país.
Bento Kangamba falava à imprensa, à margem da VI reunião metodológica nacional sobre a organização do trabalho do partido.
Na ocasião, o general considerou oportuna a proposta de revisão da Constituição, justificando que a medida vem demonstrar que o Presidente da República “está a dar conta do recado e a introduzir as reformas necessárias”.
Kangamba exortou os partidos da oposição no sentido de apoiarem as reformas em curso para o desenvolvimento do país, dizendo (segundo a tradução para português): “Aconselho os partidos a se organizarem internamente e melhorarem os mecanismos de mobilização e de auto-avaliação, ao invés de cantarem vitórias antecipadas”, referiu.
Por outro lado, apelou apoio ao MPLA, considerando ser um partido organizado e interessado em resolver os problemas do povo.
Em Fevereiro de 2020, o general do MPLA, Bento dos Santos Kangamba, sobrinho de José Eduardo dos Santos, negava que estivesse a tentar fugir do país, depois de ter sido detido junto à fronteira com a Namíbia por suspeita de “burla por defraudação”. Em 2018, Kangamba descreveu a governação do Presidente João Lourenço como “boa” e parte de “uma grande transição que está a acontecer em Angola”.
Em comunicado, a assessoria de imprensa do militar na reserva explicou que Bento Kangamba colaborou com a justiça do seu partido (MPLA) e tem pago uma dívida relativa a um caso de “suspeitas do crime por defraudação” a que foi sujeito.
“Nunca o Sr. Bento dos Santos Kangamba ou os seus representantes legais foram notificados de qualquer medida de coacção que, porventura, lhe tenha sido aplicada, o que significa que era um homem livre, podendo circular dentro e fora das fronteiras de Angola, sem qualquer restrição”, referia o comunicado.
Kangamba “não teria como estar em fuga, sustentam os seus assessores no comunicado, em primeiro lugar, porque não pendia sobre si nenhuma interdição de saída, ou qualquer outra medida de coacção e, em segundo lugar, porque fez toda a sua vida em Angola, tem todo o seu património em Angola e a aludida dívida, que foi forçadamente contraída a alguém que pretendia expatriar os seus capitais, à revelia da legislação em vigor, já era de montante bastante inferior ao património que possuiu”.
“A sua precipitada detenção, de forma ilegal, ilícita e abusiva, que aqui e agora protestamos veementemente, constitui uma violação grosseira às normas mais elementares de qualquer estado democrático e de direito e demonstra, de forma clara e inequívoca, a gratuita intenção de humilhar publicamente um homem que tanto contribuiu, como militar, político e empresário, para o engrandecimento de Angola”, referiam os assessores do general.
O general Bento dos Santos Kangamba fora detido junto à fronteira com a Namíbia por suspeita de “burla por defraudação” e fuga, anunciou na altura a Procuradoria-Geral da República (PGR) de Angola.
Em causa estavam supostamente indícios de “prática do crime de burla por defraudação”, segundo as autoridades do seu partido, salientando que o general foi detido na província do Cunene, no sul de Angola, quando tentava fugir para a Namíbia. Na altura da detenção foram apreendidos uma pistola e valores em kwanzas e rands.
Bento Kangamba casou com uma sobrinha do antigo Presidente angolano e Presidente Emérito do MPLA, José Eduardo dos Santos, é dono do clube de futebol Kabuscorp e foi dirigente do MPLA, partido no Governo desde 1975 e dirigido por João Lourenço.
No passado, o general tem um histórico com autoridades judiciais internacionais. Chegou a ser acusado de tráfico de mulheres pela justiça brasileira e o seu nome esteve também envolvido numa investigação em França sobre o destino de três milhões de euros apreendidos no sul de França e que, alegadamente, se destinava ao general, que estava no Mónaco.
Em Fevereiro de 2018, ao participar no programa “Angola Fala Só”, da VoA, Bento Kangamba abordou uma vasta gama de assuntos colocados pelos ouvintes, desde acusações de corrupção a negócios e futebol. O general reafirmou declarações anteriores de que os seus advogados estavam a trabalhar para pedir indemnizações aos governos do Brasil e Portugal pelas acusações de tráfico de mulheres (no Brasil) e lavagem de fundos (em Portugal), que foram depois rejeitadas em tribunal.
“O que está em jogo é o meu nome, o nome da minha família e a minha imagem que é bem vista em Angola e África”, disse o general, lembrando que com essas decisões dos tribunais se justificam agora as suas declarações anteriores de que era “invejado”.
Kangamba disse ser mentira que estivesse envolvido num caso em França em que cidadãos portugueses e angolanos foram apanhados com centenas de milhares de dólares em França a caminho de Mónaco, onde ele se encontrava.
“As pessoas meteram o meu nome e eu não tinha nada a ver com isso”, disse, explicando que “uma pessoa ligada a mim com os seus negócios viajava por um sítio e foi preso, mas eu não tenho nada a ver com isso”. O general afirmou que vai “ao Mónaco quando quiser” porque nunca teve problemas “em processo algum”.
Bento Kangamba descreveu a governação do Presidente João Lourenço como “boa” e parte de “uma grande transição que está a acontecer em Angola”.
“Temos que apoiar o Presidente na transição e também aquele que está a fazer a transição para o seu sucessor”, acrescentou, afirmando que as exonerações “são uma coisa normal e formal para qualquer Presidente”.
Quanto às origens da sua fortuna, Bento Kangamba afirmou que mesmo antes de ingressar nas FAPLA nos anos de 1980 “já tinha dinheiro” por ter estado envolvido no garimpo dos diamantes. O empresário disse que na altura não se podia fazer negócios abertos de diamantes e que o seu pai chegou a ser preso. “Eu também fui uma vez ouvido sobre os diamantes”, revelou, acrescentando que agora a sua empresa se dedica a diversos ramos de negócio, como a construção de casas. “Faço o meu negócio sem facilidades de ninguém”, assegurou.
Interrogado sobre a decisão do Governo de João Lourenço exigir o repatriamento de fundos de angolanos no estrangeiro, Bento Kangamba disse que isso não se aplica àqueles que têm fundos legítimos.
“Estamos a falar de angolanos que exerceram cargos no Governo e alguns tiveram dinheiro no estrangeiro guardado nos bancos e isso é algo que o Governo pode e deve fazê-lo”, adiantou o empresário, ressalvando, contudo, que o Governo não tem que interferir com fundos legítimos de empresários como ele.
“Eu é que sei onde posso guardar o meu dinheiro”, afirmou. “Posso guarda-lo num garrafão, na Bélgica, na Europa, e isso é normal para qualquer empresário de qualquer parte do mundo”, acrescentou, dizendo ainda que “tudo o que tenho é justificado”.
O general afirmou que “as pessoas não podem ter dúvidas sobre o general Bento Kangamba”. “Eu sempre apareci no bom momento”, disse, dando como exemplo acções de apoio em áreas sociais muitas vezes sem qualquer publicidade. Interrogado sobre notícias de que teria em tempos sido preso por burlar vendedoras, Bento Kangamba disse tratar-se de uma mentira. “Eu estive num processo das Forças Armadas que me levou à cadeia mas depois fui absolvido”, explicou.
No que se refere às vendedoras, o empresário disse ter havido um problema com o fornecimento de chouriço, mas “houve uma reunião com as senhoras, foi-lhes devolvido o seu dinheiro e isso não é burla”.
O empresário negou também notícias de que estaria numa lista de devedores ao Banco Poupança e Crédito (BPC). Bento Kangamba também refutou que equipa de futebol Kabuscorp ligada à companhia do mesmo nome esteja a receber fundos do Governo. “A Kabuscorp nunca teve qualquer ligação com o Estado e a equipa não é do Estado, é uma equipa que é minha”, afirmou, garantindo: “Nunca fui ajudado, sequer com um tostão”.